29 de setembro de 2013

São Bruno e a morte do doutor da Sorbonne



               Na vida do fundador dos Cartuxos, São Bruno, lê se a ressurreição momentânea de um respeitável personagem para atestar, diante de muita gente, a própria condenação. Paris e toda a França ficaram horrorizadas com esse acontecimento. Foi, então, que Bruno, temendo os juízos divinos, retirou se para a Cartuxa a fim de levar vida austeríssima.
              Morreu um doutor de Sorbona, Raimundo Diocres, que era um homem muitíssimo conceituado tanto por sua vasta ciência, quanto por uma aparência de virtude. Após de três dias, o seu corpo, revestido das insígnias doutorais, foi transportado solenemente para ser enterrado.
              Acompanhavam no o colégio dos professores, grande número de estudantes e de pessoas do clero. A catedral, onde se celebraram as exéquias, estava revestida de luto, com luzes e muitas inscrições que lembravam a insigne ciência e as virtudes do ilustre falecido.
              Mas quando o coro dos cantores chegou àquele trecho do ofício que diz: Responde mihi: quantas habeo iniquitates et peccata; scélera mea et delicta ostende mihi; no qual o santo Jó roga a Deus que lhe faça conhecer as suas culpas, o cadáver ergueu a cabeça do féretro e com voz lastimosa exclamou: "Por justo juízo de Deus, sou acusado". Dito isto, tornou a repousar a cabeça.
             Os assistentes foram tomados por um terror geral, e resolveram deixar para o outro dia os funerais. Neste dia, com muito maior concorrência de gente, recomeçou se o ofício, e ao chegar às mesmas palavras, tornou o cadáver a levantar a cabeça e a exclamar com voz esforçada e ainda mais lastimosa: "Por justo juízo de Deus, estou julgado".
             Aumentou o pasmo e o espanto. Resolveram prorrogar o enterro para o terceiro dia. Neste, foi enorme o concurso; deu se início ao ofício, como nos anteriores; quando se cantavam as mesmas palavras, levantou o defunto a cabeça e, com voz horrível e espantosa exclamou: "Não necessito de orações; por justo juízo de Deus estou condenado ao fogo eterno".
             É fácil perceber a impressão que faria nos ânimos um acontecimento tão extraordinário.
             Encontrava se Bruno presente a este espetáculo; emocionou se tão fortemente que, retirando se horrorizado, resolveu deixar tudo quanto tinha e enterrar se em algum espantoso deserto para ali passar a vida, entregue unicamente aos rigores da mortificação e da penitência. Parecia necessário um sucesso tão trágico para uma decisão tão generosa.

Fonte: Venerável Padre André Beltrami. O inferno existe. Niterói: Leituras Católicas de Dom Bosco, 1945.

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