A Igreja celebra com esplendor a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, que ostenta o título honorífico de “Omnium urbis et orbis ecclesiarum mater et caput”,
ou seja, “Mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade [de Roma] e do
mundo”. É ela a Catedral do Papa, ao contrário do que se costuma pensar
devido ao papel hoje desempenhado pela Basílica de São Pedro, a qual, na
verdade, é apenas uma das quatro basílicas papais da Cidade Eterna.
Até o exílio dos Papas em Avignon, no século XIV, viviam eles no
Palácio de Latrão, antiga propriedade da família Laterano, nome pelo
qual ficou conhecido. O cônsul romano Pláucio Laterano, por suspeita de
conspiração, foi morto pelo infame Nero que lhe confiscou os bens,
dentre os quais esse edifício, na mesma época em que movia a perseguição
aos cristãos.1 Não imaginava o tirano que, anos mais tarde, tudo aquilo
seria doado à Igreja pelo Imperador Constantino, e tornar-se-ia
residência dos sucessores de Pedro e primeira Basílica da Cristandade. O
Papa São Silvestre
Nesta Basílica encontramos não só vestígios de variados estilos
artísticos, graças às obras de embelezamento e ampliação realizadas ao
longo dos séculos, mas também numerosas e valiosíssimas relíquias.
Dentre as principais contam-se a mesa onde foi celebrada a Santa Ceia (cf. Mt 26, 20-28; Mc 14, 18-24; Lc 22, 14-17), parte do tecido purpúreo com que os soldados revestiram o Divino Redentor na Paixão (cf. Mc 15, 17; Jo 19, 2),
as cabeças de São Pedro e de São Paulo, e a taça na qual São João
Evangelista, segundo uma antiga tradição, foi obrigado a tomar um veneno
que, por milagre, não lhe fez mal.
Nascida sob o signo da perseguição
Para melhor compreendermos a importância desta data, lembremo-nos de
que a Santa Igreja Católica nasceu sob o signo da perseguição, em
circunstâncias por vezes tão violentas que obrigavam os primeiros
cristãos a se refugiar nas catacumbas — os cemitérios cristãos — para
praticar o culto. Era costume na Roma Antiga escavar extensas galerias
subterrâneas, verdadeiros labirintos, nas quais sepultavam os mortos.
Transitar por elas era perigoso, pois quem o fizesse podia se perder com
facilidade, sem ter como retornar. Nas épocas de perseguição, os irmãos
que nos precederam com o sinal da Fé precisavam embrenhar-se nessas
profundezas — naquele tempo sem dispor de luz elétrica —, com grande
risco de serem denunciados, presos e supliciados. No Coliseu e no Circo
Máximo grande número de cristãos manifestaram sua adesão à Fé com a
própria vida, ao serem mortos pelas feras na arena diante do público ou
em meio a terríveis tormentos.
A liberdade de culto outorgada por Constantino com a promulgação do
Edito de Milão, em 313, por influência de sua mãe Santa Helena, e o
consequente pulular de incontáveis igrejas por todo o império — dentre
as quais a Basílica de Latrão ocupa um posto proeminente — representaram
para os fiéis indescritível alívio e alegria.
Expressivo é o testemunho de Eusébio de Cesareia ao retratar o exultar
do povo cristão com o advento dessa nova era da História da Igreja: “um
dia esplendoroso e radiante, sem nuvem alguma que lhe fizesse sombra,
ia iluminando com seus raios de luz celestial as igrejas de Cristo pelo
universo inteiro, […] transbordávamos de indizível gozo, e para todos
florescia uma alegria divina em todos os lugares que pouco antes se
encontravam em ruínas pela impiedade dos tiranos, como se revivessem,
depois de uma longa e mortífera devastação. E os templos surgiam de novo
desde os fundamentos até uma altura imprevista, e recebiam uma beleza
muito superior à dos que anteriormente haviam sido destruídos”
Por isso a festa da Dedicação da Basílica do Latrão foi instituída em
Roma, expandindo-se mais tarde, e hoje consideramos com júbilo esse
templo grandioso, que até nossos dias impressiona por seu esplendor.
Fontes consultadas: DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os
Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013
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