9 de dezembro de 2015

Por que existe o Purgatório?



             No último Sábado os cooperadores do Sodalício Nossa Senhora da Saúde puderam usufruir de seu habitual programa, composto da recitação do rosário, Celebração Eucarística, palestra e convívio.
             O tema desenvolvido pelo arauto Pe. David C. Francisco tratou da existência do Purgatório. Ilustrada com muitos exemplos, a palestra chamou muitíssimo a atenção dos presentes, que manifestaram o desejo de assistirem outras reuniões sobre  temas congêneres.

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Abaixo uma amostra do assunto tratado na ocasião:

          Deus todo-poderoso nos deu o ser a fim de praticarmos a virtude para louvá-Lo, reverenciá-Lo e servi-Lo acima de tudo, e não é outra a nossa obrigação, uma vez que nossos pais não criaram nossa alma imortal, mas sim Deus, de quem na verdade nascemos. Ora, quando pecamos, fazemos mau uso das criaturas, dando as costas a Deus e ofendendo-O.
         O Salvador, porém, em sua infinita bondade, nos deixou o Sacramento do Batismo para apagar a culpa original e de todos os pecados cometidos até o momento de recebê-lo, se já tivermos o uso da razão, bem como o da Penitência, para absolver as faltas em que incorremos depois do Batismo. E ao sermos perdoados pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, através dos lábios do sacerdote, evitamos a condenação ao inferno. No entanto, além da injúria feita a Deus, o pecado atenta também contra outras duas ordens - a consciência e o universo - e, em consequência, é lógico sermos por elas humilhados e punidos.
Depois da Confissão, uma dívida pendente
              Não obstante, devemos nos lembrar de que se o Batismo perdoa a dupla pena à qual está sujeito o pecador - a eterna, em consequência da rejeição de Deus, e a temporal, devido à adesão desordenada às criaturas -, a Confissão, ao absolver da primeira, nem sempre livra totalmente da segunda, pois a remissão desta depende da intensidade e da perfeição do arrependimento de cada alma. Assim, na maior parte dos casos, permanece pendente uma dívida que exige reparação, quer na Terra, por meio da penitência, quer na outra vida, submetendo-se a alma aos rigores do Purgatório.
              No que consiste, então, essa dívida, e como poderá a alma pagá-la?
              Imaginemos alguém que, andando pela rua num dia de chuva, se vê de repente coberto de lama da cabeça aos pés pela passagem de um veículo em alta velocidade. Por mais que essa pessoa lave o rosto, sabe que, além disso, precisa limpar a roupa, sobretudo se está a caminho de uma festa de casamento, onde jamais poderia aparecer manchada de barro.
              Da mesma forma, no momento em que a alma se separa do corpo e comparece ao juízo particular, recebe um especial dom para lhe iluminar a memória e a consciência, recordando-lhe todos os detalhes de sua vida moral e espiritual.  Percebe ela, então, como na Confissão lhe foram perdoadas as faltas contra Deus, bem como a pena eterna delas decorrente: seu rosto está limpo. Mas sua consciência grita, pois sente-se suja e necessitada de "trocar de roupa", isto é, de pagar a pena temporal. Ademais, pode ela ter certa mentalidade pouco conforme à boa ordem, à sabedoria, sobretudo nos dias atuais, em nosso mundo dominado pelo mecanicismo e pela técnica. Também pode haver ideias, caprichos ou manias que a afastam do equilíbrio perfeito da santidade e são contrários, enquanto regra de vida, aos princípios da Fé, com os quais ela não pode estar diante de Deus e contemplá-Lo face a face, porque estes lhe impediriam de entendê-Lo, de amá-Lo e de relacionar-se com Ele.
A razão da existência do Purgatório
              Como obter o perdão da pena temporal e adequar os critérios, a fim de se estar pronto para ver a Deus? Na vida terrena podemos alcançar isto mediante a aquisição dos méritos que nos advêm das boas obras - penitências, orações, atos de misericórdia etc. - ou pelas indulgências que a Igreja nos concede, pois, usando de seu poder de administradora da Redenção de Cristo Senhor, [...] por sua autoridade abre ao fiel convenientemente disposto o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos.
         No caso de terem sido desdenhados estes meios, torna-se necessária a existência do Purgatório para, post mortem, purificar [a alma] das sequelas do pecado e obter a remissão da pena, como diz São Tomás, pagando durante um período a dívida imposta pela ofensa à consciência e à ordem do universo. "É portanto necessário" - continua o ensinamento da Igreja - para o que se chama plena remissão e reparação dos pecados não só que, graças a uma sincera conversão, se restabeleça a amizade com Deus e se expie a ofensa feita à sua sabedoria e bondade, mas também que todos os bens, ou pessoais ou comuns à sociedade ou relativos à própria ordem universal, diminuídos ou destruídos pelo pecado, sejam plenamente restaurados.
O reformatório de nosso egoísmo
              Desejando, pois, que entremos no convívio com Ele sem mancha alguma, puros e perfeitos - porque lá "não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras" (Ap 21, 27) -, Deus criou o Purgatório, à maneira de reformatório do nosso egoísmo, onde este é queimado no fogo e somos reeducados na verdadeira visualização de todas as coisas e no amor à virtude. Concluído este período, nossa alma está santificada e, por isso, pode-se afirmar que todos os que estão no Céu são santos.
As almas do Purgatório desejam essa purificação
              Apesar de tais penas, as almas que se encontram no Purgatório não estão ali acorrentadas, desejando fugir. Pelo contrário, aceitam todos os sofrimentos. E se soubessem da existência de mil Purgatórios, ainda mais ardentes, quereriam neles se lançar, pois, na verdade, o que se lhes afigura mais intolerável é verem-se cobertas de manchas que as afastam de Deus. Elas anseiam por ser inteiramente puras e virginais para entrar no Céu. Esta atitude assemelha-se à de um arminho - animalzinho tão alvo, símbolo da castidade e da inocência - que prefere morrer a ver suja sua pelagem branca.

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