Este é o admirável São Paulo, cuja festa a Igreja celebra neste Domingo, juntamente com o Apóstolo São Pedro.
Com o sacrifício do primeiro mártir, Santo Estevão, teve início violenta perseguição contra a Igreja de Jerusalém, obrigando os fiéis a se dispersarem pelo interior da Judéia, pela Samaria, Síria e ilha de Chipre. Somente os Apóstolos permaneceram mais algum tempo na Cidade Santa.
Um fariseu se destacava por seu ódio contra os seguidores de Jesus: Saulo. Não tendo idade legal para apedrejar Estevão, Saulo limitou- se a tomar conta dos mantos dos algozes. O seu ódio aos cristãos o levou a pedir ao príncipe dos sacerdotes cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém os cristãos que lá encontrasse.
A mais retumbante conversão da História
Quem era esse Saulo?
Pelo ano 3 de nossa era, nasceu ele em Tarso, na Cilícia, cidade então célebre como centro comercial e intelectual. Sua família pertencia à tribo de Benjamin e gozava do direito de cidadania romana. Jovem ainda, estudou em Jerusalém, na escola do conhecido Gamaliel. Mas tudo leva a crer que permaneceu poucos anos nessa cidade, e não chegou a conhecer pessoalmente Jesus, segundo alguns autores.
Quando o reencontramos em Jerusalém, ei-lo na primeira fileira dos perseguidores dos cristãos.
Sua maravilhosa conversão no caminho de Damasco, a mais retumbante da História, deu-se por volta do ano 35. Tinha ele cerca de 32 anos. É bem conhecido o episódio em que, subitamente envolto por uma luz resplandecente, caiu por terra e ouviu uma voz vinda do Céu:
— Saulo, Saulo, por que me persegues?
— Quem és, Senhor?
— Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
— Senhor, que queres que eu faça? — perguntou trêmulo o até então orgulhoso fariseu.
— Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer, — respondeu Jesus.
E Saulo, levantando-se, constatou que estava cego...
Para grandes males, grandes remédios. Que soberana manifestação de Deus, reduzindo à impotência aquele que julgava tudo poder! Cego, apenas sabia que devia se dirigir a Damasco: Aí te será dito o que deves fazer...
A auto-suficiencia de Saulo fora substituída pela humildade de Paulo. Morrera o fanático fariseu, perseguidor dos cristãos; nascia o gigante da Fé que deslumbrará a Igreja.
Tudo no Apóstolo Paulo é grandioso
Em Damasco, Ananias lhe restituiu a vista e o batizou. Em seguida, o néo-convertido passou três anos no deserto da Arábia, sendo instruído pelo próprio Jesus. Voltando à capital da Síria, pregou a fé cristã com tanto zelo e sucesso, que os judeus, furiosos, tentaram matá-lo. Mas os discípulos fizeram-no descer à noite pela muralha, dentro de um cesto.
Fugindo para Jerusalém, tentou juntar-se lá aos cristãos, mas todos o temiam, não crendo em sua conversão. Então Barnabé apresentou-o aos Apóstolos, narrando como em Damasco Paulo pregara com desassombro o nome de Jesus. Permaneceu pouco tempo na Cidade Santa, pois aí também alguns judeus quiseram matá-lo. O próprio Jesus lhe apareceu, alertando-o: “Apressa-te e sai logo de Jerusalém porque não receberão o teu testemunho a meu respeito. Vai, porque Eu te enviarei para longe, às nações...”.
Portentosa epopéia evangelizadora
Com esse mandato do Divino Mestre, o Apóstolo iniciou sua portentosa epopéia de evangelização entre os gentios. Partiu para Tarso, e de lá seguiu com Barnabé para Antioquia, onde formaram uma grande comunidade de fiéis. Nesta cidade, os discípulos de Jesus foram chamados pela primeira vez de cristãos, para os distinguir dos judeus e dos gentios.
Na ilha de Chipre, para onde os dois Apóstolos se dirigiram, vemos um exemplo do fogo evangelizador de Paulo. O procônsul Sérgio Paulo, homem sensato, desejava ouvir a palavra de Deus. Mas Barjesus, um mago, procurava desviar da fé esse magistrado romano. Então Paulo cravou os olhos no falso profeta e disse: “Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor! Eis que agora está sobre ti a mão do Senhor e ficarás cego. Não verás o sol até nova ordem!” Ao ver o mago logo reduzido à cegueira, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor. Apesar disso, as autoridades da cidade expulsaram os dois Apóstolos, por instigação dos judeus.
Assim, por sucessivas cidades, após a pregação destemida do Evangelho, acompanhada por vezes de milagres admiráveis, numerosas conversões se davam, o que ocasionava a perseguição por parte dos dirigentes das sinagogas locais.
A sagacidade, virtude saliente dos Santos de todas as épocas
O Divino Mestre nos recomenda sermos simples como a pomba e astutos como a serpente.
São Paulo nos dá disso exemplo.
Foi ele pregar o nome de Cristo em Atenas, centro intelectual do mundo antigo. Todos os dias, discutia com os judeus nas sinagogas e anunciava na praça pública o nome de Jesus e sua Ressurreição. Alguns filósofos levaram-no para discursar no Areópago, local por excelência onde os atenienses se reuniam para dizer e ouvir as últimas novidades. Demonstrando fina sagacidade, Paulo iniciou assim seu discurso: “Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vô-lo anuncio!”.
Quando, no final de seu discurso, o ouviram afirmar que Cristo ressuscitou, muitos zombaram dele. Entretanto, alguns homens creram e foram batizados, entre os quais São Dionísio Areopagita, primeiro Bispo de Atenas.
Deus quer operar milagres através dos Santos
Deus deu a alguns de seus discípulos o poder de, em seu nome, curar os enfermos, expulsar os demônios, e até ressuscitar mortos. São Paulo valeu-se largamente desse poder, para atrair e confirmar na Fé aqueles a quem pregava.
Na cidade de Listra, ordenou a um homem coxo de nascença: “Levanta-te direito sobre os teus pés!”. Este deu um salto e pôs-se a andar. Impressionado, num primeiro mo mento o povo quis adorá-lo como um deus. Porém, manipulado por alguns judeus, acabou apedrejando Paulo. Julgando-o morto, o arrastou para fora da cidade. O Apóstolo foi salvo depois pelos discípulos.
Na ilha de Malta, curou o pai do governador, impondo-lhe as mãos. Sabendo disto, os habitantes apressaram em trazer-lhe todos os doentes da ilha, e todos foram curados.
E em Trôade, Paulo ressuscitou um moço que, durante uma pregação que se prolongara noite adentro, adormeceu e caiu do terceiro andar, vindo a falecer.
Seria demais longa a enumeração desses fatos prodigiosos.
Mencionemos apenas mais um, muito interessante para mostrar como Nosso Senhor Jesus Cristo se compraz com o culto às relíquias dos Santos. Diz o livro dos Atos dos Apóstolos (19, 11): “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos”.
O elogio de si mesmo, em defesa dos fracos na Fé

Continuando, proclama que, sem a graça, ele nada é, e faz uma repreensão aos coríntios: “Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. (...) e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. Deste homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas (...) Vós é que deveríeis fazer o meu elogio, visto que em nada fui inferior a esses eminentes apóstolos, se bem que nada sou”.
Também perante os gálatas, teve de usar argumentação semelhante: “Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente.
(...) Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. (...) Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
E aos filipenses: “Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. (...) quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. (...) Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo. Nós, porém, somos cidadãos dos céus.”
Combateu o bom combate, recebeu no Céu a coroa de justiça
Grandiosa foi sua vida, tal será também sua morte.
Sendo cidadão romano, São Paulo não podia ser crucificado. Foi, assim, decapitado pela espada, no ano 67. Conta-nos a tradição que sua cabeça, rolando ao solo, saltou três vezes e fez brotar três fontes que podem ser vistas ainda hoje na Igreja de San Paolo alle Tre Fontane, na via d’Ostia, em Roma.
Estando preso em Roma, o incansável Apóstolo não deixou de pregar, e obteve a conversão de incontáveis almas. Posto em liberdade no início do ano 64, dirigiu-se à Espanha e à Ásia. Retornando a Roma, foi preso novamente, desta vez com São Pedro.
Ficaram eles na prisão mais antiga de Roma, o Cárcere Mamertino, local impregnado de bênçãos, que comove a quantos por lá passam. Com efeito, como não se impressionar ao contemplar, logo nos primeiros degraus da estreita escada que leva ao calabouço, a marca do rosto do Príncipe dos Apóstolos, milagrosamente impressa na parede de pedra? E que emoção ao ver no canto da cela a fonte que brotou do solo, possibilitando aos Apóstolos batizarem os próprios carcereiros, convertidos pelo seu exemplo e pregação!
No final de sua heróica vida, pôde o Apóstolo das Gentes cantar este hino de triunfo do varão que sente a consciência limpa na hora do encontro com o Supremo Juiz: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição”.
Revista Arautos do Evangelho nº 25 - Roberto Kasuo
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