28 de junho de 2013

São Paulo, o gigante da Fé



              Quem pode dizer de si mesmo: “combati o bom combate”, “guardei a fé”, “sede meus imitadores”, “tudo posso n’Aquele que me conforta”? Curou inúmeros enfermos, ressuscitou um morto, converteu multidões, foi açoitado, flagelado, apedrejado, naufragou, e morreu mártir.                
              Este é o admirável São Paulo, cuja festa a Igreja celebra neste Domingo, juntamente com o Apóstolo São Pedro.

              Com  o  sacrifício  do primeiro mártir, Santo Estevão, teve início violenta perseguição contra a Igreja de Jerusalém,  obrigando  os fiéis a se dispersarem pelo interior  da Judéia,  pela Samaria,  Síria e ilha de Chipre. Somente  os Apóstolos permaneceram mais algum tempo na Cidade Santa.
Um  fariseu  se  destacava   por seu ódio contra  os seguidores  de Jesus: Saulo. Não tendo idade legal para apedrejar Estevão, Saulo limitou- se a tomar  conta  dos mantos  dos algozes. O seu ódio aos cristãos o levou a pedir  ao príncipe  dos sacerdotes  cartas  para  as sinagogas de Damasco,  com o fim de levar presos a Jerusalém os cristãos que lá encontrasse.

A mais retumbante conversão da História
               Quem era esse Saulo?
                Pelo ano 3 de nossa era, nasceu ele em Tarso, na Cilícia, cidade então  célebre  como centro  comercial e intelectual. Sua família pertencia à tribo de Benjamin e gozava do direito  de cidadania  romana. Jovem ainda, estudou em Jerusalém, na escola do conhecido Gamaliel. Mas tudo leva a crer que permaneceu poucos anos nessa cidade, e não chegou a conhecer pessoalmente Jesus,  segundo  alguns autores.
                Quando o  reencontramos  em Jerusalém,  ei-lo na primeira  fileira dos perseguidores dos cristãos.

             
                 Sua maravilhosa  conversão  no caminho  de Damasco,  a mais retumbante da História, deu-se  por volta do ano 35. Tinha ele cerca de 32 anos. É bem conhecido o episódio em que, subitamente envolto por uma luz resplandecente, caiu por  terra  e ouviu uma  voz vinda do Céu:
— Saulo, Saulo, por que me persegues?
— Quem és, Senhor?
— Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
— Senhor,  que  queres  que  eu faça? — perguntou trêmulo  o até então orgulhoso fariseu.
— Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer, — respondeu Jesus.
               E Saulo, levantando-se, constatou que estava cego...
               Para grandes males, grandes remédios. Que soberana  manifestação de Deus, reduzindo à impotência aquele que julgava tudo poder! Cego, apenas sabia que devia se dirigir a Damasco: Aí te será dito o que deves fazer...
               A auto-suficiencia de Saulo fora substituída pela  humildade  de Paulo. Morrera o fanático fariseu, perseguidor dos cristãos; nascia o gigante da Fé que deslumbrará a Igreja.

Tudo no Apóstolo Paulo é grandioso
               Em Damasco,  Ananias lhe restituiu a vista e o batizou. Em seguida,  o néo-convertido  passou  três anos no deserto  da Arábia,  sendo instruído  pelo próprio  Jesus. Voltando  à capital da Síria, pregou  a fé cristã com tanto  zelo e sucesso, que os judeus,  furiosos, tentaram matá-lo. Mas os discípulos fizeram-no descer à noite pela muralha, dentro  de um cesto.
               Fugindo para Jerusalém, tentou juntar-se lá aos cristãos, mas todos o temiam, não crendo em sua conversão. Então Barnabé apresentou-o aos Apóstolos,  narrando como em Damasco Paulo  pregara  com desassombro o nome de Jesus. Permaneceu pouco tempo na Cidade  Santa, pois aí também  alguns judeus  quiseram matá-lo.  O próprio  Jesus  lhe apareceu, alertando-o:  “Apressa-te e sai logo de Jerusalém porque não receberão o teu testemunho a meu respeito. Vai, porque Eu te enviarei para longe, às nações...”.

Portentosa epopéia evangelizadora
               Com  esse mandato do  Divino Mestre, o Apóstolo iniciou sua portentosa  epopéia  de evangelização entre os gentios. Partiu para Tarso, e de lá seguiu com Barnabé  para Antioquia,  onde formaram uma grande  comunidade  de  fiéis. Nesta  cidade,  os discípulos de Jesus foram chamados pela primeira vez de cristãos, para os distinguir dos judeus e dos gentios.
               Na  ilha  de  Chipre,  para  onde os dois Apóstolos se dirigiram, vemos um exemplo do fogo evangelizador de Paulo. O procônsul Sérgio Paulo,  homem  sensato,  desejava ouvir a palavra de Deus. Mas Barjesus, um mago, procurava desviar da  fé esse magistrado romano. Então Paulo  cravou os olhos no falso profeta e disse: “Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor! Eis que agora está sobre ti a mão do Senhor e ficarás cego. Não verás o sol até nova ordem!”  Ao ver o mago logo reduzido à cegueira, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente  a doutrina do Senhor. Apesar disso, as autoridades da cidade  expulsaram  os dois Apóstolos, por instigação dos judeus.
                Assim, por  sucessivas cidades, após  a pregação  destemida do Evangelho,  acompanhada por vezes de milagres admiráveis, numerosas conversões  se davam, o que ocasionava a perseguição  por parte dos dirigentes das sinagogas locais.

A sagacidade, virtude saliente dos Santos de todas as épocas
              O Divino Mestre nos recomenda sermos simples como a pomba e astutos como a serpente.
São Paulo nos dá disso exemplo.
              Foi ele pregar  o nome de Cristo  em  Atenas,  centro  intelectual do mundo  antigo. Todos  os dias, discutia  com  os judeus  nas  sinagogas e anunciava na praça pública o nome de Jesus e sua Ressurreição.  Alguns  filósofos levaram-no para discursar no Areópago, local por excelência  onde  os atenienses se reuniam para dizer e ouvir as últimas novidades. Demonstrando fina sagacidade, Paulo iniciou assim seu discurso: “Homens  de Atenas, em  tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também  um altar com esta inscrição: A um deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vô-lo anuncio!”.
              Quando, no final de seu discurso, o ouviram  afirmar  que Cristo ressuscitou, muitos zombaram  dele. Entretanto, alguns homens creram  e foram  batizados,  entre  os quais São Dionísio Areopagita, primeiro Bispo de Atenas.

Deus quer operar milagres através dos Santos
               Deus deu a alguns de seus discípulos o poder  de, em seu nome, curar os enfermos, expulsar os demônios,  e até  ressuscitar  mortos. São Paulo valeu-se largamente desse poder, para  atrair  e confirmar na Fé aqueles a quem pregava.
               Na cidade de Listra, ordenou a um homem coxo de nascença: “Levanta-te direito sobre os teus pés!”. Este deu um salto e pôs-se a andar. Impressionado, num primeiro mo mento o povo quis adorá-lo  como um deus. Porém,  manipulado por alguns judeus,  acabou  apedrejando Paulo. Julgando-o morto, o arrastou para fora da cidade. O Apóstolo foi salvo depois pelos discípulos.
               Na ilha de Malta,  curou  o pai do governador,  impondo-lhe as mãos. Sabendo  disto, os habitantes apressaram em trazer-lhe todos os doentes  da ilha, e todos foram curados.
               E em Trôade,  Paulo ressuscitou um moço que,  durante uma  pregação que se prolongara noite adentro, adormeceu e caiu do terceiro andar, vindo a falecer.
               Seria demais longa a enumeração desses fatos prodigiosos.
               Mencionemos apenas mais um, muito interessante para mostrar como Nosso Senhor  Jesus Cristo se compraz  com o culto às relíquias dos Santos.  Diz o livro dos Atos dos Apóstolos  (19, 11): “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham  tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos”.

O elogio de si mesmo, em defesa dos fracos na Fé

              Premido pela necessidade de anular  os efeitos  nefastos  de falsos apóstolos,  ministros de  Satanás disfarçados em ministros de Cristo, São Paulo vê-se obrigado a fazer aos cristãos de Corinto  esta magnífica  apologia  de si mesmo: “São hebreus? Também  eu. São israelitas? Também eu. São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda mais. Muito  mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos  um.  Três vezes flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei.”
               Continuando, proclama  que, sem a graça, ele nada é, e faz uma repreensão aos coríntios: “Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. (...) e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. Deste homem eu me gloriarei, mas de mim  mesmo  não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas (...)  Vós é que deveríeis fazer o meu elogio, visto que em nada fui inferior a esses eminentes apóstolos, se bem que nada sou”.
               Também perante os gálatas, teve de usar argumentação semelhante: “Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou  à  graça de  Cristo para um evangelho diferente.
(...) Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. (...) Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou  e se entregou por mim”.
                E  aos filipenses:  “Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado  ao oitavo dia, da raça de  Israel, da  tribo de  Benjamim, hebreu e filho de hebreus. (...) quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. (...) Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo. Nós, porém, somos  cidadãos dos céus.”

Combateu o bom combate, recebeu no Céu a coroa de justiça
                Grandiosa foi sua vida, tal será também sua morte.
                Sendo cidadão romano, São Paulo  não  podia  ser  crucificado. Foi, assim, decapitado pela espada,  no  ano  67. Conta-nos  a  tradição que sua cabeça, rolando  ao solo, saltou três vezes e fez brotar três fontes que podem ser vistas ainda hoje na Igreja de San Paolo alle Tre Fontane, na  via d’Ostia, em Roma.
                Estando  preso em Roma,  o incansável Apóstolo  não deixou de pregar,  e obteve  a conversão  de incontáveis almas. Posto em liberdade no início do ano 64, dirigiu-se à Espanha e à Ásia. Retornando a Roma,  foi preso novamente, desta vez com São Pedro.
        
      Ficaram eles na prisão mais antiga de Roma, o Cárcere Mamertino, local impregnado de bênçãos, que comove a quantos  por lá passam. Com efeito, como não se impressionar ao  contemplar,  logo nos primeiros  degraus  da estreita escada  que  leva ao  calabouço,  a marca do rosto do Príncipe dos Apóstolos, milagrosamente impressa na parede  de pedra?  E que emoção ao ver no canto da cela a fonte que brotou  do solo, possibilitando  aos  Apóstolos  batizarem os próprios  carcereiros, convertidos pelo seu exemplo e pregação!
                No final de sua heróica vida, pôde o Apóstolo  das Gentes  cantar  este  hino de triunfo do varão que sente  a consciência  limpa na hora do encontro com o Supremo Juiz: “Combati o bom combate, terminei a minha  carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição”.

                                                   Revista Arautos do Evangelho nº 25 - Roberto Kasuo

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