Reportagem exclusiva à Gaudium Press
traz esclarecimentos sobre o comissariado dos Arautos do Evangelho,
divulgado pela Santa Sé, os Arautos do Evangelho foram manchetes de
algumas das mais famosas agências noticiosas do mundo e responde as
calúnias.
Logo após a difusão da notícia sobre o
comissariado dos Arautos do Evangelho divulgada pela Santa Sé, a
Associação foi inserida nas manchetes de algumas das mais famosas
agências noticiosas do mundo. Enquanto alguns órgãos procuravam enfocar a
situação com profissionalismo, outros preferiram prestar-se - antes de
comprovar a realidade dos fatos - à veiculação de versões parciais, ou
até mesmo distorcidas, dos fatos de maneira a, consciente ou
inconscientemente, denegrir a boa reputação da entidade.
Desejosos
de encontrar a verdade no meio de todas as informações, inclusive
contraditórias, que têm circulado pela internet e pelas redes sociais
nos últimos dias, realizamos uma reportagem exclusiva junto às
autoridades e aos membros dos Arautos do Evangelho, para apurar a sua
versão dos fatos, e apresentá-la ao grande público.
* * *
Porta-voz aposta em "perseguição religiosa" com "modelo moderno"
Os Arautos lamentam que algumas agências
não tenham seguido o código ético do jornalismo, pois não ouviram a
versão das vítimas, dando azo a notícias distorcidas e sem fundamento
factual. Segundo afirma Humberto Goedert (advogado, brasileiro, 53
anos), porta-voz da entidade, "é notório que há uma organização
criminosa por trás, movida por ódios pessoais, e não interessada na
verdade. Uma autêntica perseguição religiosa em pleno século XXI,
disfarçada sob os véus de falsas ideologias. Tudo isso tem causado danos
irreparáveis, não só para a imagem dos Arautos, mas também para a
própria Igreja. É vexaminoso".
Mais ainda, Goedert explicou que o
departamento de imprensa da instituição - após investigação das várias
afirmações caluniosas, procurando remontar às suas fontes - encontra
sempre no fim o mesmo roteiro difamatório, reajeitado e reencaixado,
mudando apenas os nomes dos implicados. O porta-voz diz acreditar que a
razão disto acontecer é que a verdadeira motivação não está nos fatos,
mas no ódio: "Os incriminadores são sempre os mesmos, que são desafetos
da instituição; eles se refugiam nas sombras da internet e procuram
disfarçar seu pequeno número no anonimato", acrescentou.
Segundo o membro, esse grupinho de
descontentes, porém, é como um vaso oco, como reza o ditado: só faz
barulho. Goedert remete a Cristo, que também foi perseguido e condenado à
pior das ignomínias, mas - observa ele, com uma ponta de ironia - Jesus
passou por um juízo, embora iníquo, onde ele ao menos foi chamado pelo
seu próprio nome: "Quem quereis que vos solte, Barrabás ou Jesus, que
chamam de Cristo?" (Mt 27,17). Com efeito, o porta-voz deplora que nem
isso foi concedido aos Arautos, pois no decreto lavrado pela Santa Sé
foram tratados como "associação pública", o que não corresponde à
realidade jurídica da entidade.
Goedert lamenta que tenha havido "muito
atropelo e pouco diálogo" nos procedimentos dos quais a instituição é
objeto desde 2017. "Sempre estivemos abertos ao diálogo, um diálogo
aliás que, infelizmente, nem sempre foi recíproco. Só pedimos que seja
observado o mínimo de legalidade nos procedimentos, pois até no
julgamento injusto de Jesus um certo simulacro de procedimento jurídico
foi observado. Mas a justiça dos escribas e fariseus é coisa do passado:
até parece que o modelo moderno de julgamento eclesiástico prescinde de
fatos, provas e argumentos", conclui o advogado.
Visita Apostólica positiva, mas com resultado desconhecido
Como foi já amplamente divulgado, ainda
antes da comunicação oficial por meio dos Comissários, os Arautos do
Evangelho foram objeto de uma Visita Apostólica, durante a qual -
segundo a nota divulgada pela entidade - "nada foi encontrado contra a
moral, a sã doutrina ou as leis eclesiásticas e civis".
Goedert
lembra que, ao final da Visita, ainda foi entregue um volumoso dossiê de
respostas a questionamentos, oriundos em parte dos mesmos murmuradores
de sempre, e remete à nota de imprensa que afirma que "os Visitadores e a
Santa Sé não apresentaram observações a essa resposta da Instituição".
O
porta-voz comunicou à nossa reportagem o espanto e desconforto de
muitos membros dos Arautos ao serem informados de que, apesar de tudo
isto, fora declarado um Comissariado, baseando-se apenas em razões
genéricas.
"O Comissariado é inválido", afirma Presidente
No último dia 17 de outubro, o
Presidente dos Arautos do Evangelho, Felipe Eugenio Lecaros Concha
(chileno, 60 anos), juntamente com o seu Conselho Geral, recebeu a
visita de Dom Raymundo Damasceno Assis e Dom José Aparecido Gonçalves de
Almeida, nomeados respectivamente Comissário e auxiliar para a
"Associação Internacional Pública Arautos do Evangelho". A reportagem
teve acesso à ata da reunião. Nela, o Presidente dirige as seguintes
palavras iniciais aos prelados:
"Nós lhes reverenciamos como bispos da
Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, e como tais ambos são objeto de
nossa consideração, mas devemos declarar que não reconhecemos Vossa
Eminência enquanto ‘Comissário' da Associação Privada de Fiéis Arautos
do Evangelho, da qual eu sou o Presidente legitimamente eleito".
O Presidente dos Arautos do Evangelho
explica que o decreto que notifica o Comissariado da Associação é
simplesmente inválido pelas seguintes razões:
1) O decreto se destina a uma
"Associação Pública de Fiéis", quando os Arautos do Evangelho são uma
"Associação Privada de Fiéis". A diferença de natureza jurídica entre
ambas as formas associativas faz com que não corresponda aos Arautos
receber este decreto, assim como Fernando dos Santos não poderia
responder em juízo por Antonio dos Santos, sem se configurar um erro de
pessoa.
2) As associações privadas de fiéis, por sua própria
natureza, não são passíveis de ser comissariadas. Com efeito, o Código
de Direito Canônico prevê o Comissariado apenas para as associações
públicas de fiéis (cân. 318,1).
3) Dada a impossibilidade de tal Comissariado, o Presidente e seu Conselho dão o caso por encerrado.
Segundo consta na ata em questão, o
pronunciamento foi fundamentado nas leis eclesiásticas e amparado por
eminentes canonistas, como Lluis Martinez Sistach, que nega a
possibilidade de semelhante Comissariado.
Além disso, existe o
precedente do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida que não
permitiu o comissariamento da Associação Privada de Fiéis Palavra Viva,
declarando que "a nomeação de um comissário (cân. 318) é indicada no
direito entre as medidas previstas apenas para as associações públicas
de fiéis (cân. 312-320) e, portanto, não podem ser aplicadas a uma
associação privada de fiéis. Portanto, a nomeação de um comissário neste
caso não é legítima".
Em Portugal, por exemplo, a lei civil
incorporou esse entendimento ao permitir vigilância das autoridades
competentes, mas não o Comissariado.
O Presidente então concluiu a
respeito: "Trata-se, portanto, de um decreto nulo. Não é uma questão de
querer aceitá-lo ou não; na realidade, ele sequer está destinado para
nós".
"Nem há lugar para recurso", diz canonista
"Nem há lugar para recurso", diz canonista
O canonista que assessorou o Presidente
dos Arautos durante a reunião, Prof. Dr. José Manoel Jiménez (professor,
espanhol, 67 anos), explicou que a Associação sequer tem a capacidade
de recorrer do decreto, pois se trata de um documento simplesmente
não-existente (ou infectus, na linguagem canônica).
O Prof. Dr.
Jiménez ainda argumentou que tampouco foi seguido o cân. 50, que prevê a
obrigação de ouvir a parte lesada antes de se proceder à emissão de um
decreto.
Ainda sobre o fato do documento
confundir a entidade privada com uma associação pública, o canonista
espanhol diz ter ficado atônito: "Isto é inexplicável. Foi um erro, ou
fizeram isto de propósito? Se foi um erro, é algo que sinceramente não
se pode admitir na Cúria Romana. Agora, se foi feito de propósito, o que
pretendem com isso?"
Dom Raymundo Damasceno e Dom José
Aparecido concordaram a respeito do fato de ser esta questão relevante e
que por isso será levada por eles à Santa Sé. Além disso, reiteraram
não estar em posse de nenhuma outra informação, além das generalidades
que constam no Decreto, no tocante às problemáticas e carências a serem
supridas pela entidade.
Afirmaram, ademais, não terem tido
acesso nem ao relatório dos Visitadores, nem ao dossiê de respostas
proporcionado pelos Arautos. Segundo Goedert, as autoridades dos Arautos
se encontram perplexas diante desses fatos, por não terem como explicar
a seus simpatizantes tantas singularidades no processo.
As duas Sociedades são um caso à parte
A reportagem procurou também os
representantes das duas outras entidades que são objeto, junto com os
Arautos do Evangelho, do decreto de Comissariamento emitido pela
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de
Vida Apostólica.
Por um lado, a Sociedade Clerical de Vida
Apostólica Virgo Flos Carmeli reúne os clérigos que comungam do mesmo
carisma dos Arautos do Evangelho, aplicado às especificidades do
ministério sacerdotal. Da mesma forma que a Sociedade Regina Virginum o é
à vida apostólica feminina.
O Pe. Jorge María Storni (argentino, 77
anos), Superior Geral de Virgo Flos Carmeli, e a Ir. Anina Morazzani
(venezuelana, 51 anos), Superiora Geral de Regina Virginum, nos
remeteram aos comunicados oficiais onde as respectivas entidades se
pronunciaram a respeito do Comissariado.
Neles se lê que "o referido decreto é ilegal por contradizer expressas normas do Direito Canônico, além de conter graves irregularidades", entre as quais mencionam: o não estar motivado em graves razões explícitas; o não terem sido ouvidas as diretorias das entidades a respeito do resultado da Visita e dos motivos do decreto, antes do Comissariamento; e o conter erros materiais graves, como a confusão nas formas associativas, ou afirmar que Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum formam parte de Arautos do Evangelho, quando são instituições autônomas.
Neles se lê que "o referido decreto é ilegal por contradizer expressas normas do Direito Canônico, além de conter graves irregularidades", entre as quais mencionam: o não estar motivado em graves razões explícitas; o não terem sido ouvidas as diretorias das entidades a respeito do resultado da Visita e dos motivos do decreto, antes do Comissariamento; e o conter erros materiais graves, como a confusão nas formas associativas, ou afirmar que Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum formam parte de Arautos do Evangelho, quando são instituições autônomas.
Nos comunicados
também há queixas de falta de transparência na manipulação das
informações por parte da Santa Sé, divulgando à imprensa dados que foram
mantidos ocultos às próprias entidades interessadas.
Embora
reconheçam que, pelo direito vigente, elas possam ser objeto de um
Comissariado, pois são entidades públicas da Igreja, as Sociedades pedem
que sejam respeitados seus direitos que consideram terem sido lesados
no processo em curso e, sobretudo, que sejam esclarecidas as razões
concretas graves que o tenham motivado.
Outros questionamentos
Segundo outros membros dos Arautos do
Evangelho, contatados por nossa reportagem, muitos enigmas ainda estão
sem solução em relação a este e outros Comissariados.
Elizabeth
Titonelli (brasileira, 58 anos) se indigna: "Como explicar que se
procure violar a lei, comissariando ilegalmente os Arautos, quando
tantas outras coisas na Igreja parecem ser simplesmente intocáveis,
mesmo diante de tantos abusos de ordem doutrinária, moral e
disciplinar?"
Guillermo Asurmendi (argentino, 60
anos), por sua vez, censura o recente comportamento de pessoas de grande
visibilidade na Igreja, que ele qualifica de "barbaridades", e que
entretanto nunca foram punidos; e conclui: "Chama a atenção esta falta
de equidade, a gente fica até sem saber o que pensar. Parece indicar que
existem, além de dois pesos e duas medidas, intenções inconfessadas. O
único que queremos é que sejam observados os nossos direitos, que haja
ao menos um pouco de proporcionalidade e respeito da justiça para o bem
de todos, inclusive para a credibilidade das instâncias eclesiásticas".
Elizabete Astorino (casada, brasileira,
61 anos) também disse estranhar a confusão do decreto quanto à
competência dos dicastérios do Vaticano. Ela recorda ser contra a
própria natureza das associações laicais que leigos - sem votos, com
frequência casados e exercendo profissões seculares - sejam tratados
como religiosos: "Por que insistir em colocar-nos sob a tutela da
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de
Vida Apostólica? Não tem o menor sentido!" Além de demonstrar
estupefação por haver tantas incoerências e improcedências, Elizabete
diz que outros casais também se perguntam como ficariam suas famílias
se, por absurdo, elas fossem todas comissariadas: "Em tom de
brincadeira, eu perguntei ao meu marido se da próxima vez que quisermos
trocar de carro vamos precisar do OK do Comissário. Mas meu marido nem
ligou; ele riu, e deu de ombros", disse.
Dr. Jiménez garante que tampouco foram
seguidas as praxes prévias ao Comissariado.
Segundo Goedert, indícios
apontam que os Arautos já tinham sido prejulgados com finalidade
destrutiva, e que existem dados segundo os quais já desde 2014 se
procurava apenas um pretexto para promover uma Visita Apostólica
destinada a desembocar necessariamente, seja qual fosse o resultado, num
Comissariado. O porta-voz acredita que o vazamento ilegal de alguns
vídeos, há alguns anos, cujo conteúdo teria sido manipulado fora de
contexto, foi instrumentalizado para este fim.
Procurado pela nossa reportagem, o
Presidente dos Arautos, Felipe Lecaros, mencionou existirem relatos
recentes de alguns Arautos que apontam para a animosidade de certo
purpurado em relação à Associação.
Segundo estes membros, isso
já ocorre desde longa data, colocando em xeque a boa fé, imparcialidade e
a reta intenção, seja da Visita, seja do Comissariado, e afirmam
encontrar as impressões digitais desse prelado na campanha difamatória
promovida contra a Instituição, a qual se teria iniciado no período e na
cidade onde ele se encontrava. Lecaros, contudo, não quis dar mais
detalhes a respeito; disse apenas que esta matéria ainda se encontra em
investigação, e que a entidade se reserva o direito de promover qualquer
ação legal destinada a defender a sua boa fama, diante dos fiéis e da
sociedade.
Outra fonte, que pediu para permanecer
no anonimato, diz estar assustada com o crescente descontentamento que
está constatando, não apenas entre os Arautos, mas também no público em
geral, a respeito dos atropelos de que os Arautos têm sido objeto. "Eles
realmente têm muita paciência, viu?", exclama. "Até demais, ao menos
por enquanto. Mas nós estamos nos organizando; se eles não se
defenderem, nós o faremos", afirma. Ela se diz inconformada com a
atitude que as autoridades da Igreja estão tomando, e pergunta: "Afinal,
o que pretendem com isto?" E conclui: "Isto não é bom para a Igreja,
logo agora..."
Arautos se perguntam: "qual é o problema?"
Felipe Lecaros lamenta a falta de
diálogo nas medidas que estão sendo tomadas contra uma entidade que
sempre se caracterizou pela comunhão eclesial: "Fazemos o possível para
manter um bom entendimento em todas as dioceses onde trabalhamos, e
disto são prova as milhares de cartas de apoio, felicitação e gratidão
que temos recebido de párocos, bispos e até cardeais, louvando nosso
apostolado". Ele explicou que muitas iniciativas atuais dos Arautos,
como a Revista e o Fundo Misericórdia, foram inclusive sugestões de
prelados, acatadas pela Instituição.
Assim, insiste ele, sabemos que as oposições vêm de uma minoria organizada, e se pergunta o porquê desta constante não transparência por parte da autoridade eclesiástica a propósito de eventuais queixas alegadas contra uma instituição de comportamento exemplar?
Assim, insiste ele, sabemos que as oposições vêm de uma minoria organizada, e se pergunta o porquê desta constante não transparência por parte da autoridade eclesiástica a propósito de eventuais queixas alegadas contra uma instituição de comportamento exemplar?
Quanto aos motivos atualmente alegados,
Lecaros questiona: "O governo e a vida dos membros é regida pelos nossos
Estatutos, aprovados aliás pela Santa Sé; a qualidade da formação dos
Arautos é algo universalmente reconhecido, e assim poderíamos prosseguir
com as demais alegações; então, qual é o problema?".
Goedert
confirma que esta situação "nos leva a nos perguntarmos o que realmente
temos de problemático". Contudo, ele prefere não se arriscar a
responder: "Por enquanto, só temos algumas hipóteses, sobre as quais
ainda não chegou o momento de nos pronunciarmos", acrescentou.
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