Dia 12
de setembro a Igreja celebra o Santo Nome de Maria. Contaremos o empolgante fato
histórico que deu origem à dedicação deste dia para louvar o bendito nome da
Mãe de Deus, nas palavras de Mons. João Scognamiglio Clá Dias.
O Santo
Nome de Maria e o Cerco de Viena
“A Áustria
é uma árvore imensa, cujo tronco é Viena. Derrubado este, os galhos cairão por
si!”
Com
estas palavras Karah Mustafá pôs termo final à discussão do grande conselho
otomano que havia se reunido em Belgrado. Imediatamente, Maomé IV ordenou o
início dos preparativos de uma imensa expedição militar que deveria conquistar
a capital do império austríaco!
Um
poderoso exército de 200 mil homens foi posto sob as ordens do impetuoso maometano
cujas palavras atearam o fogo da guerra, ou seja, o próprio Karah Mustafá.
* Beato Inocêncio XI, um homem providencial
As
notícias chegadas do Oriente espalharam-se céleres por toda Europa, mas infelizmente,
ela estava dividida. O protestantismo, surgido no século XVI, continuava a se
infiltrar nas nações cristãs ao longo do século XVII. Reis e Príncipes,
esquecidos da concórdia cristã envolviam-se em perpétuas querelas e alguns não
hesitavam em firmar infames alianças com o sultão de Istambul, a fim de
favorecer seus egoísmos e amores-próprios como tristemente era o caso de Luis XIV,
Rei de França.
Entretanto,
um anjo velava pela Europa, o Santo Padre, o Papa Beato Inocêncio XI. Ele
tentava, por todos os meios unir os príncipes cristãos. Mas, bem sabia que a
salvação não viria dos homens, mas somente de Deus, e por isso implorava a intervenção
divina através do poderoso e santo nome de Maria!
Com
efeito, o Santo Padre resolvera num Capítulo de São Pedro em Roma, coroar de
ouro e pedras preciosas a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano,
a fim de que Ela obtivesse a constituição de uma Liga Católica. No dia 17 de
novembro de 1682, foi a Santa Imagem do Bom Conselho coroada perante grande
multidão de fiéis, por um cônego que representava o Sumo Pontífice.
A
intercessão da Medianeira de todas as graças não demorou a se fazer sentir:
No dia
31 de março, o Imperador da Áustria, Leopoldo I, e o Rei da Polônia, João Sobieski,
prometeram unir seus esforços contra o enorme exército que Maomé IV preparava
com a intenção de apoderar-se de Viena.
* O Cerco de Viena
Em abril
de 1683, o Grão-Vizir Mustafá pôs-se em marcha rumo a Viena.
No
primeiro dia de maio, Leopoldo I passa em revista o exército imperial, que se
compunha de 40 mil homens, e entrega o comando ao Duque Carlos de Lorena, que
havia sido despojado de suas terras por Luis XIV, e encontrava-se, desde então,
junto ao Imperador.
Após
grave conversa com seus conselheiros, Leopoldo I decide abandonar a capital e
refugia-se na cidade de Lintz.
O valoroso
e destemido Conde Stahrenberg foi nomeado governador da cidade. O Duque de
Lorena ordenou que 10 mil guerreiros ficassem com o Conde Stahrenberg para
defender as muralhas de Viena. Corn os outros 30 mil, Carlos de Lorena iria
tentar deter o avanço dos turcos.
No
momento que o exército otomano cruzava o Rio Raab, os austríacos apresentaram-se
para a batalha, mas logo foram rechaçados pelo numerosa tropa inimiga.
Desde 14
de julho de 1683, Viena ficou cercada, e completamente separada do exército
imperial, que se havia retirado para a margem esquerda do Danúbio.
Um bosque
de 25 mil tendas de campanha se estendia em forma de meia lua, rodeando a
cidade; entre todas se distinguia a tenda do Grão-Vizir, verde por fora e
radiante de ouro e prata por dentro, e com tantas salas e aposentos que mais parecia
urna cidade fantástica, que uma tenda de campanha.
Nunca a
Europa tinha sido tão ameaçada. O momento era de uma importância enorme. A meia
lua, senhora dos muros de Viena, teria mudado todo o curso da História
Universal.
* Iniciam-se os combates
O
Grão-Vizir Karah Mustafá, não tardou em exigir que a cidade de Viena se rendesse
incondicionalmente.
Após
curta deliberação, os corajosos defensores fizeram ouvir a sua resposta: um
formidável bombardeio!
Deu-se
início a terríveis batalhas. Durante seis semanas os turcos atacaram e bombardearam
ininterruptamente Viena, tentando tomá-la de assalto, enquanto a fome e a
doença devastavam interiormente a capital do Império. Os habitantes preferiam,
no entanto, ser sepultados nas ruínas da cidade e morrerem em defesa da
Cristandade, a entregarem-se covardemente.
A cada
dia esgotavam-se as provisões de pólvora e grande era a escassez de víveres.
No dia 4
de setembro, explode uma mina que faz tremer metade da cidade. Karah Mustafá dá
ordem de avançarem contra a cidade. Já os turcos cravavam suas bandeiras nas
muralhas, mas Stahrenberg conseguiu rechaçá-los após violentos combates e
inúmeros atos de heroísmo.
Entretanto,
os ataques tomavam-se cada vez mais violentos e ameaçadores, e o conde já se
preparava para a luta nas ruas. Escolhe um, dentre os mais ousados cavaleiros,
e manda-o levar uma mensagem ao exército do Duque de Lorena. O apelo é
desesperado:
‘Não há mais tempo! Se não vierdes, estamos perdidos! Viena
cairá!”
Carlos
de Lorena, nada podia fazer...
* A poderosa intercessão de Maria
Nossa
Senhora não é a mestra das obras inacabadas! Tendo - através de seu fiei servidor,
o Papa Inocêncio XI - conseguido a formação da liga católica, Ela levaria a bom
termo a sua providencial intercessão.
Na noite
de 11 de setembro, os sitiados puderam ver, sobre as alturas da cordilheira do
norte, o fulgor de inúmeras fogueiras. Era o Rei da Polônia, João Sobieski, que
cumpria a sua promessa e avançava com um exército de 70 mil homens!
Felizes
augúrios da intercessão da invencível Mediadora foram notados por todos em
certas coincidências que assinalaram os preparativos da jornada: o exército
polonês, depois de muitas dificuldades, conseguiu pôr-se em marcha no glorioso
dia 15 de agosto, festa da Assunção; e o encontro de todas as forças aliadas,
deu-se no dia 8 de setembro, festa da Natividade de Maria. Nesse dia, João
Sobieski, feito comandante-em-chefe das tropas cristãs, preparou-se recebendo o
Pão dos Anjos.
O
domingo, dia 12 setembro de 1683 foi verdadeiramente um dia do Senhor. Ao raiar
da aurora pode-se contemplar um quadro magnífico: trinta e dois principes,
acompanhados por milhares de nobres assistiram à Santa Missa celebrada pelo
delegado do Papa, Marco de Aviano, religioso capuchinho, com fama de santidade.
Acolitava o Santo Sacrifício com os braços em Cruz o próprio João Sobieski.
Todos comungaram, e o Padre Marco de Aviano deu a bênção, dizendo:
– Em
nome do Santo Padre, digo-vos que, se tiverdes confiança em Deus, a vitória é
vossa!
O
Soberano polonês, após armar cavaleiro seu filho e incitar o exército ao combate,
afirmou:
– A
batalha de hoje decidirá não apenas a libertação de Viena, mas a conservação da
Polônia e a salvação da cristandade inteira!
A
atenção dos povos da Europa voltavam-se para Viena, e todos uniam-se aos defensores
da Cristandade, pois o Papa dera ordem de expor o Santíssimo Sacramento em
todas as Igrejas do Continente.
* A batalha decisiva
Ao brado
de ‘Deus é nosso auxílio!” os oitenta e quatro mil homens que formavam as
tropas cristãs, arremeteram contra os duzentos mil soldados do império otomano.
As nove
horas da manhã, o Duque de Lorena deu início ao combate com a ala esquerda. A
batalha se generalizou somente às duas horas da tarde, pois o centro das forças
católicas avançava lentamente. Os muçulmanos lutavam com ferocidade, os
cristãos com ousadia. A terra estremecia corn o troar dos canhões e com o
estrondo galopante da cavalaria.
Não
havia colina em que não se travasse uma luta tremenda. Entre o vozerio do
combate, subia até o céu, como um brado de guerra, o dulcíssirno nome de Maria.
A
cavalaria polonesa havia se adiantado demasiadamente no campo inimigo e quase
foi envolvida pelas tropas do Grão-Vizir. O exército imperial veio em seu auxílio
e conseguiu libertá-la.
As seis
da tarde, a situação ainda não estava definida no campo de batalha, sendo a
superioridade numérica dos turcos esmagadora.
Finalmente
os alemães penetraram no campo do adversário pelo lado esquerdo; uma hora
depois, os poloneses faziam o mesmo pelo lado direito. Como uma poderosa tenaz
começaram a apertar o centro do exército de Mustafá.
O
Grão-Vizir compreendeu que não podia mais sustentar o combate, e, chamando seus
filhos, começou a chorar como uma criança. Em seguida, suplicou ao chefe dos
tártaros:
- Salva-me,
se podes!
Mas ele
respondeu:
-
Conheço bem esse rei dos poloneses: é irresistível! Pensemos antes em fugir e
salvar nossas vidas!
Os
turcos começaram então a fugir, e grande foi o desastre que se abateu sobre eles.
O acampamento muçulmano inteiro, com suas imensas riquezas, caiu em poder dos
católicos. Viena estava salva!
João
Sobieski foi o primeiro a entrar na tenda do Grão-Vizir. O eleitor da Baviera,
o Príncipe de Waldeck e muitos outros príncipes do Império vieram até ele e
abraçaram-no com imenso afeto.
No dia
13 de setembro, o monarca e suas tropas vitoriosas entraram na cidade. O
governador Stahrenberg, a frente de urna multidão, foi a seu encontro. Dirigiram-se
todos para a Igreja de São Roque e São Sebastião, e lá foi entoado o Te Deum em agradecimento por tão
esplêndida e miraculosa vitória.
O Rei da
Polônia, ao deixar a Igreja, foi envolvido pelo povo que lhe beijava as mãos,
as botas e o manto e bradava: ‘Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Johannes (Jo
1, 6)”, repetindo assim as palavras do Evangelho que São Pio V aplicara a Dom
João d’Austria, o vitorioso de Lepanto: ‘Houve um homem enviado por Deus, cujo
nome era João”.
O perigo
havia sido imenso, Stahrenberg, defensor da cidade, já não tinha sob suas
ordens mais de 4 mil homens: 5 mil haviam tombado em combate e os restantes
jaziam nos hospitais e enfermarias improvisados.
Inocêncio
XI, cujos auxílios tomaram possíveis a vitória do exército católico, mandou
iluminar a Cidade Eterna e fez percorrer pelas cidades italianas a bandeira conquistada
aos turcos. O bem-aventurado Sumo Pontífice havia sido, na realidade, a alma da
liga católica. Desde o início viu no nome de Maria os primeiros raios
fulgurantes da estrela anunciadora da vitória!
Por
isso, instituiu no dia 12 de setembro a festa do Santíssimo Nome de Maria, para
perpetuar a lembrança da libertação de Viena e para mostrar ao povo cristão quanta
é a confiança que se deve ter na invocação deste dulcíssimo nome: Maria! Foi
por meio dEle que se alcançou o memorável triunfo da Fé e da Civilização Cristã.
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