São Boaventura, frade franciscano que viveu no século
XIII, recebeu o título de Doutor Seráfico devido à elevação e clareza de sua
doutrina. É de sua autoria o Sermão XXI ‑ No nascimento do Senhor ‑ Pronunciado
na igreja de Santa Maria de Porciúncula, o qual se baseia, segundo atesta o próprio
Santo, em diversas descrições antigas.
Apresentamos abaixo uma tradução de parte do texto original
latino.
“São estes, segundo diversas descrições, os milagres
manifestados ao povo pecador no dia da natividade de Cristo:
‑ Uma estrela brilhantíssima apareceu no céu,
do lado do Oriente, e nela se via a figura de um belíssimo menino em cuja cabeça
refulgia uma cruz, para manifestar que nascia Aquele que vinha iluminar o mundo
com sua doutrina, sua vida e sua morte.
‑ Em Roma, ao meio‑dia apareceu sobre o
Capitólio, junto ao sol, um círculo dourado ‑ visto pelo imperador e pela
Sibila ‑ tendo ao centro uma Virgem belíssima, portando um menino, a fim de
manifestar que Aquele que nascia era o rei do mundo, que se dava a conhecer
como o “resplendor da glória do Pai e a figura da sua própria substância” (Hebr.
1,3). Vendo este sinal, o prudente imperador ofereceu
incenso ao menino, e recusou desde então ser chamado deus.
‑ Em Roma desmoronou o templo da Paz, a respeito do qual, ao ser construído, os demônios se perguntavam quanto tempo duraria; tendo‑lhes sido respondido: até o momento em que uma Virgem dê a luz. Este foi um sinal de que nascia Aquele que haveria de destruir os edifícios e as obras da vaidade.
‑ Uma fonte de azeite de oliveira irrompeu em Roma e fluiu abundantemente, por muito tempo, até o rio Tibre, para ficar patente haver nascido a fonte da piedade e da misericórdia.
‑ Na noite da Natividade, as vinhas da
Engadda, que produzem bálsamo, floresceram, cobriram‑se de folhas e produziram
licor, para significar que nascia Aquele que faria o mundo florescer,
reverdecer e frutificar espiritualmente, e atrair com seus odores o mundo
inteiro.
‑ No momento em que a Virgem deu a luz, todos os ídolos do Egito se espatifaram, segundo o sinal que Jeremias dera aos egípcios quando esteve entre eles, para que se entendesse que nascia Aquele que era verdadeiro Deus, único a ser adorado como o Pai e o Espírito Santo.
‑ Logo que o Menino nasceu e foi reclinado no presépio, um boi e um asno ajoelharam‑se e, como se fossem dotados de razão, O adoraram, para que se compreendesse que nascia Aquele que a seu culto chamava o povo judeu e os gentios.
‑ Todo o mundo gozou da paz e se colocou em
ordem, para que ficasse manifesto que nascia Aquele que amaria e promoveria a
paz universal e marcaria os seus eleitos para a eternidade.
‑ No Oriente três sóis apareceram, e aos
poucos se transformaram em um só corpo solar, pelo que se mostrava que se
aproximava do mundo o conhecimento da unidade e trindade de Deus, e também que
a Divindade, a Alma e a Carne em uma só Pessoa convergiram.
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